12 de dezembro de 2008

Maverick na calçada

Alguém em algum blog perdido por aí na internet e achado no Google me fez lembrar esse poema, simplesmente porque ele estava lá, nesse blog aparentemente abandonado. Reacendo mais uma vez esse espaço aqui com esses meus versos que recordam momentos e situações que nunca vivi. É o Efeito Maverick.

Maverick na calçada

Olhares luminosos perdidos nas ruas espanholas
Os cabelos soltos e molhados diante do espelho
Martelando pregos e cantando melodias japonesas
Corro esquecido na amplidão dos estacionamentos
Tudo isso não me lembra você

Quebrando as cordas de uma guitarra esquecida
Solidão ensolarada sentada na beira da piscina
Brincando com a areia e limpando o suor na testa
Sanduiche de atum numa lanchonete movimentada
Tudo isso nada me lembra, muito menos você

Não consigo aprender o que tenho que esquecer
Sinto-me fraco e impotente embaixo do chuveiro
Saudade e água fria trazem de novo à tona
minhas lembranças e minhas lágrimas
Não consigo esquecer o que a vida me fez perder
Não há sabedoria suficiente ainda dentro de mim
Existem tentativas perdidas e choros insistentes

Dormindo docemente numa tarde fria e chuvosa
As letras miúdas nas legendas das fotos
Os cartões de embarques e os vistos nos passaportes
A calçada forrada de pedras simétricas e geométricas
Sentado no banco da frente de um Maverick
Nada disso realmente me lembra você

Não consigo aprender o que tenho que esquecer
Sou teimoso e deixo o passado me afogar
Não consigo esquecer o que a vida me fez perder
Não há forças suficientes dentro de mim
que façam eu me apegar a recordações
que nunca me farão lembrar do
verdadeiro Amigo que encontrei em você.

...


Escrito por
Ulisses Góes em 2005, pensando
em amizade e lembrando de situações
que nunca vivenciou.

1 de dezembro de 2008

A Dama de meus Sonhos

Sorrateira na vastidão sinfonicamente escura
Sopra mansa pensamentos em fumaças disfarçadas
Cativa o espaço com passos camuflados
Carrega meus pesadelos devidamente guardados
em um recipiente fosco pardo na mão esquerda
enquanto levita minhas imperfeições
serenamente na mão direita em um esfera obscura

Dissimulada em seu olhar de Capitu
Sorri enquanto captura minhas fraquezas
flutua sofucante em meu sono arquejante
Satisfazendo-se com meu afogamento onírico

Meu rosto molhado de suor sempre guarda
seus beijos mórbidos e oblíquos
de simulada Dama Senhora de sonhos alheios.

...
poema nascido em uma tarde chuvosa
e trovejante de dezembro e escrito
por
Ulisses Góes.

27 de março de 2008

Uma Sinfonia em C

Eles estão erguendo religiões e construindo líderes
Eles estão criando conspirações e comissões de inquéritos
Intrépidos e inquietos os seus pés de fogo em espirais de fumaça
Estão traficando sua liberdade e comendo suas crianças
Estão trancafiando sua sanidade em filas febris e doentes

Eles estão queimando suas esperanças com madeira de lei
Estão sufocando sua gargante com violência gratuita
Estão matando em ligações por celulares
Canibalizando o que resta de suas virtudes escondidas
Exterminando sua racionalidade com sete balas

Eles estão fazendo esse mundo oscilar numa dança
de cadávares nas pistas e corpos desovados
Estão plantando terrorismo em vasos de estrume e sangue
Estão poluindo seu café da manhã e fumando seu almoço
Estão drogando suas inocências e cancelando seus vôos

Eles estão congestionando suas vias e atrasando seus objetivos
obstruindo suas conexões e desprezando seus princípios
Enterrando suas resistências e afogando suas conquistas
E você, depois de lavar suas mãos, olha para o espelho sorrindo
enquanto assobia uma bela e destoante sinfonia em C.

por
Ulisses Góes, no outono infernal de 2008

10 de março de 2008

Fanatismo

Composição: Fagner

Minh'alma de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
Posto que és já toda minha vida
Não vejo nada assim, enlouquecida,
Passo no mundo meu amor a ler
No misterioso livro do teu ser,
A mesma história, tantas vezes lida
Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
De uma boca divina, fala em mim
E olhos postos em ti, sigo de rastros:
"Podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como um deus, princípio e fim."

Eu já te falei de tudo, mas tudo isso é pouco,
diante do que sinto.


[Faço das palavras de Fagner as minhas, por tempo indeterminado]

13 de fevereiro de 2008

Quarta feira, 13 de fevereiro

Que lugar mais empoeirado esse da minha memória. E essa tarde em brumas não ajuda em nada. Apenas me faz respirar o silêncio, quieto, que repousa gritando em mim. Essa sensação que não passa nem ao acendermos o último cigarro, como se fosse um prolongamento do meu momento acordado nessa sensação de sonho amargo esperando você aparecer naquela porta. Talvez, quem sabe, talvez eu divida isso com você. Pela minha sanidade, pela nossa integridade, eu quero que saiba: você não está sozinha, solidão. Você esqueceu disso há algum tempo, mas eu te faço lembrar, mesmo depois de tantas coisas estranhas terem acontecido...

Você sonha, acredita em algo no meio das suas baforadas, assim como eu te espero aparecer por aquela porta. Eu posso mudar, você sabe, podemos todos mudar. Quem você quer ser ou quer que eu seja? Eu sou o mesmo, sempre fui o mesmo. Quer que eu seja alguém, de verdade? Na verdade tudo que nos era necessário é o súbito desejo de estar em casa. Estar no lar. Lugar onde nos permitem gritar aos nossos modos sem interferência. A rua interefere, a casa dos outros intefere, até o tio mais legal interfere na sua liberdade interna. Na sua solidão, solitário. Mesmo quando todas os caminhos apontam direções divergentes, meu Deus, sei bem que o caminho de casa é o único que me protege do frio e da chuva.

Algumas coisas, já se sabe, jamais serão as mesmas. Alguns sentidos nunca mais terão o mesmo tato nem verão com as mesmas orelhas o falar do aroma das rosas que meus olhos degustaram...

31 de janeiro de 2008

Algo que não tem nome

Então hoje,
vou me permitir transformar aquela parede em janela,
com uma mão e um soco no meio destruo,
uso vidros e cimento, construo com outra mão.

E sentada na janela,
vou cantar à liberdade,
com amor e esperança.

Vou olhar aquela nuvem fazer voltas no céu,
criar estórias com seus desenhos
e contá-las às formigas do jardim.

Hoje, vesti aquela saia leve,
mas não preciso sair por aí.

27 de janeiro de 2008

domingo, 27 de janeiro de 2008

Ando precisando muito falar com você. Pego o telefone, todos os dias, olho pra ele e não te ligo. Tem hora a desculpa é o preço, hora que é preguiça, hora que "você não vai me atender", hora que é “acho que é engano”. Mas me necessita falar com você, rir ouvindo sua voz, te perguntar “como cê tá? Tudo bem?”. Sinto tanto a sua falta... Pode soar solitário isso, mas por vezes minha vontade é pegar esse telefone e despejar toda essa angústia que paira no meu peito. E essa angústia vem da vontade que eu tenho de te fazer sabida de tudo que eu sinto, de toda minha saudade, de toda minha necessidade. Deixar-te a par das minhas necessidades como ser, inundado de sentimento. Quantas vezes, te confesso, olhei à janela na esperança de você olhar o mesmo lugar? Ou pensei em você esperando que tivesse pensando em mim exatamente naquele minuto, exatamente naquele instante? Juro. Pode parecer piegas ou declaração de amor fajuta, mas não, não é. É necessidade minha, e só eu sei quantos mares de medo eu tenho que atravessar todos os dias quando penso em te dizer qualquer coisa, por mísera que seja. Essa dor que me dá, essa angústia num medo de que de repente você suma e nunca saiba disso. Espero seriamente que me entenda. Compreende que para mim também nada é fácil. Demolir-me quase que diariamente é muito cansativo, mas meu esforço é fazer isso sempre (e eu digo sempre mesmo) por saber que você vai aparecer quando o que restar desse meu muro cair.

Você sabe e sente o quanto eu te quero bem.

Um beijo.